Espaço de discussão e reflexão sobre a MEMÓRIA/TEMPO na construção do espetáculo de dança contemporânea "INPUT" da desCompanhia de dança. O projeto foi contemplado pelo Edital de Dança de Produção da Fundação Cultural de Curitiba e será estreado no dia 05 de Junho de 2014 no Teatro Kraide do Portão Cultural em Curitiba. Para maiores informações sobre a cia favor acessar o nosso blog www.descompanhia.blogspot.com
sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014
alguns recortes de Bergson
“A memória… não é uma faculdade de classificar recordações numa gaveta ou de inscrevê-las num registro. Não há registro, não há gaveta, não há aqui, propriamente falando, sequer uma faculdade, pois uma faculdade se exerce de forma intermitente, quando quer ou quando pode, ao passo que a acumulação do passado sobre o passado prossegue sem trégua. Na verdade, o passado se conserva por si mesmo, automaticamente. Inteiro, sem dúvida, ele nos segue a todo instante: o que sentimos, pensamos, quisemos desde nossa primeira infância está aí, debruçado sobre o presente que a ele irá se juntar, forçando a porta da consciência que gostaria de deixá-lo de fora”
“Com efeito, que somos, que é nosso caráter, senão a condensação da história que vivemos desde nosso nascimento, antes dele até, já que trazemos conosco disposições pré-natais? É certo que pensamos apenas com uma pequena parte de nosso passado; mas é com nosso passado inteiro, inclusive com nossa curvatura de alma original, que desejamos, queremos, agimos.”
“Trata-se de recuperar uma lembrança, de evocar um período de nossa história? Temos consciência de um ato sui generis pelo qual nos afastamos do presente para nos recolocarmos, primeiro no passado em geral e depois numa certa região do passado, trabalho de tenteios, análogo ao ajuste de um aparelho fotográfico. Mas nossa lembrança continua em estado virtual; dispomo-nos assim apenas a recebê-la adotando a atitude apropriada. Pouco a pouco, ela aparece como uma névoa que se condensasse; de virtual, passa ao estado atual; e, a medida que seus contornos vão se desenhando e sua superfície vai ganhando cor, tende a imitar a percepção. Mas permanece atada ao passado por suas raízes profundas, e se, depois de realizada, não se ressentisse de sua virtualidade original, se, ao mesmo tempo que um estado presente, não fosse algo que contrasta com o presente, nunca reconheceríamos como lembrança …”
“Assim nasce a ilusão de que a lembrança sucede a percepção. Mas essa ilusão tem outra fonte, ainda mais profunda. Provém de que a lembrança reavivada, consciente, causa em nós a impressão de ser a própria percepção ressuscitando sob uma forma mais modesta, e nada mais que essa percepção. Entre a percepção e a lembrança haveria uma diferença de intensidade ou de grau, mas não de natureza. (…) A lembrança de uma sensação é coisa capaz de sugerir essa sensação, ou seja, de fazê-la renascer, fraca primeiro, mais forte em seguida, cada vez mais forte à medida que a atenção se fixa mais nela.”
quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014
Memórias que se fundem…
des, como tinha dito hoje no ensaio… memórias se fundem… o que aconteceu na real… o que eu completei nas lacunas vazias… Bom, segue uma reflexão minha sobre lembranças do banheiro da minha infância. Yiuki
Paredes do banheiro
Quando eu era pequeno tinha um banheiro fora da casa, onde também era o nosso local de castigo.
Às vezes minha mãe encontrava-me sozinho nesse banheiro fazendo nada, sentado no assento tampado. Vendo a situação estranha, ela perguntava: – Filho, o que está fazendo ai? Diz ela que eu respondia: - Estou de castigo, pois fiz algo errado.
Vagas memórias que se fundem com os relatos da minha mãe.
Hoje penso que nem era triste, nem alegre aquele troninho da infância. Sabia que era somente um lugar para ficar, só isso.
Anos se passaram, sai de casa e pelas vicissitudes acabei me afastando dos meus pais. Não me sinto triste ou alegre quanto a isso, somente aprendi a ficar longe deles, pois algo dentro de mim fala que para ser filho, precisa cumprir algo como filho.
Ainda não cumpri o dever como filho, tão cedo não poderei cumprir o que geralmente as pessoas esperam de um filho.
Assim, tenho uma sensação de que preciso ficar no banheiro, uma sensação de que não mereço ser filho.
Busquei romper a filiação, deixei de telefonar e dar notícias, entrei no silêncio.
Meus pais deixaram de me telefonar, mas tempos em tempos, quando havia alguma oportunidade, minha mãe enviava-me algumas encomendas através dos meus irmãos.
Continuei a manter as paredes do banheiro, fiz para que eles desvinculassem de mim, achei que tinha conseguido.
Mas, semana passada, eu recebi mais uma encomenda através do meu irmão caçula, um pacote com comidinhas japonesas enviadas pela minha mãe, nela havia uma etiqueta escrita “Com carinho”.
Eles não desistiram... talvez nem vão desistir...
Quanto a mim, ainda não sei, talvez ser filho não é uma questão de merecer ou não...
Estou pensando em passar o Natal e Ano Novo na casa dos meus pais.
domingo, 16 de fevereiro de 2014
Vídeos de estação de trem do Adam Magyar
des, já viram esses vídeos do Adam Magyar? Muito legal. É engraçado quando algo causa estranhamento pela “aparente” não congruência com as leis da física. Cria-se um estado de atenção interessante para o espectador. Lembra que na cena da Varanda do IN-REAL acontecimentos poéticos, onde utilizo a contra-gravidade como convite ao estranhamento? Deslisar para tráz no corremão, saltar e grudar na janela, etc. Gosto desses recursos de tempo e espaço que cria um ar de surrealismo/onírico. Bom, compartilhando esse material somente como referência de vídeo. Bjsss.
LINK DOS VÍDEOS: http://www.hypeness.com.br/2014/02/ele-inventou-uma-nova-forma-de-filmar-pessoas-esperando-o-trem-o-resultado-vai-te-hipnotizar/
terça-feira, 11 de fevereiro de 2014
Música “In the rowans / Balmorhea”
"des, gostei muito dessa música, na real o que chamou a atenção foi o som da máquina de escrever. Isso é forte para mim, essa questão da necessidade de escrever p´ra não perder a memória. A melodia da música é linda, mas somente essas batidas reverberando no corpo e no espaço já são intensas. Memórias batidas na carne de forma doce, rápida, pesada, agressiva, etc. Uma necessidade de encravar o som no corpo para firmar o “existido” que é importante para mim.