Espaço de discussão e reflexão sobre a MEMÓRIA/TEMPO na construção do espetáculo de dança contemporânea "INPUT" da desCompanhia de dança. O projeto foi contemplado pelo Edital de Dança de Produção da Fundação Cultural de Curitiba e será estreado no dia 05 de Junho de 2014 no Teatro Kraide do Portão Cultural em Curitiba. Para maiores informações sobre a cia favor acessar o nosso blog www.descompanhia.blogspot.com

quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Memórias que se fundem…

des, como tinha dito hoje no ensaio… memórias se fundem… o que aconteceu na real… o que eu completei nas lacunas vazias… Bom, segue uma reflexão minha sobre  lembranças do banheiro da minha infância. Yiuki

 

Paredes do banheiro

Quando eu era pequeno tinha um banheiro fora da casa, onde também era o nosso local de castigo.

Às vezes minha mãe encontrava-me sozinho nesse banheiro fazendo nada, sentado no assento tampado. Vendo a situação estranha, ela perguntava: – Filho, o que está fazendo ai? Diz ela que eu respondia: - Estou de castigo, pois fiz algo errado.

Vagas memórias que se fundem com os relatos da minha mãe.

Hoje penso que nem era triste, nem alegre aquele troninho da infância. Sabia que era somente um lugar para ficar, só isso.

Anos se passaram, sai de casa e pelas vicissitudes acabei me afastando dos meus pais. Não me sinto triste ou alegre quanto a isso, somente aprendi a ficar longe deles, pois algo dentro de mim fala que para ser filho, precisa cumprir algo como filho.

Ainda não cumpri o dever como filho, tão cedo não poderei cumprir o que geralmente as pessoas esperam de um filho.

Assim, tenho uma sensação de que preciso ficar no banheiro, uma sensação de que não mereço ser filho.

Busquei romper a filiação, deixei de telefonar e dar notícias, entrei no silêncio.

Meus pais deixaram de me telefonar, mas tempos em tempos, quando havia alguma oportunidade, minha mãe enviava-me algumas encomendas através dos meus irmãos.

Continuei a manter as paredes do banheiro, fiz para que eles desvinculassem de mim, achei que tinha conseguido.

Mas, semana passada, eu recebi mais uma encomenda através do meu irmão caçula, um pacote com comidinhas japonesas enviadas pela minha mãe, nela havia uma etiqueta escrita “Com carinho”.

Eles não desistiram... talvez nem vão desistir...

Quanto a mim, ainda não sei, talvez ser filho não é uma questão de merecer ou não...

Estou pensando em passar o Natal e Ano Novo na casa dos meus pais.

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