Espaço de discussão e reflexão sobre a MEMÓRIA/TEMPO na construção do espetáculo de dança contemporânea "INPUT" da desCompanhia de dança. O projeto foi contemplado pelo Edital de Dança de Produção da Fundação Cultural de Curitiba e será estreado no dia 05 de Junho de 2014 no Teatro Kraide do Portão Cultural em Curitiba. Para maiores informações sobre a cia favor acessar o nosso blog www.descompanhia.blogspot.com

quinta-feira, 29 de maio de 2014

INPUT é o novo trabalho da desCompanhia de dança!

DE 05 A 29 DE JUNHO, no TEATRO ANTONIO CARLOS KRAIDE (Portão Cultural) em Curitiba


Em cena,  quatro bailarinos jogam o jogo da  memória: enquanto jogam, criam uma coreografia que deve ser memorizada e replicada. As cartas e a coreografia a  serem memorizadas impulsionam a construção de uma dramaturgia dançada, que se constrói em tempo real, a cada espetáculo. Como questão, além da construção do jogo (em pedaços), a construção da memória de cada um  (artista e receptor).
Durante o trabalho, a atualizacão constante  da memória revela novas camadas  sensoriais que se resignificam a cada espetáculo: no percurso da ação, realidade e ficcão, universalidade e particularidade se misturam sutilmente no palco; são reelaborados e colocados no mundo novamente.
A concepção e dramaturgia do espetáculo ficou a cargo do artista mineiro, Tuca Pinheiro. Segundo a diretora artística do espetáculo, Cintia Napoli, “Tuca veio para sinalizar um modo novo de criar”. Em cena os bailarinos criadores: Juliana Adur, Peter Abudi, Yiuki Doi e Mariana Mello.
No espetáculo, o impalpável e o que se revela: o que é aerado, o que escapa, a memória atualizada, a cada dia, a cada minuto.
INPUT é sobre  entradas. E saídas. E sobre lembrar-se: afinal, somos o que somos porque somos memória. 

INPUT
desCompanhia de dança
Direção: CINTIA NAPOLI
Dramaturgia e Concepção: TUCA PINHEIRO
Criação e Performance: JULIANA ADUR / MARIANA MELLO / PETER ABUDI / YIUKI DOI

DE 05 A 29 DE JUNHO DE 2014 – QUINTA A SÁBADO ÀS 20HS
DOMINGO ÀS 18H
ENTRADA FRANCA


TEATRO ANTONIO CARLOS KRAIDE
Avenida República Argentina, 3430 - Água Verde
INFO: 41 3229-4458 / 3233-8034 / 9601-8553
descompanhia@gmail.com

Input 

FICHA TÉCNICA:

  • Argumento: desCompanhia de dança
  • Direção: Cintia Napoli
  • Concepção e Dramaturgia: Tuca Pinheiro
  • Assistente de Direção: Juliana Adur
  • Criação e Performance: Juliana Adur, Marina Mello, Peter Abudi e Yiuki Doi
  • Iluminação e operação de luz: Fernando Dourado
  • Trilha sonora: Tuca Pinheiro
  • Operação de som: Cindy Napoli
  • Frigurino: Eduardo Giacomini
  • Paisagem sonora externa: Edith de Camargo
  • Voz em off: Paolla de Andrade Torrilhas
  • Texto criado por: Juliana Adur, Marina Mello, Peter Abudi e Yiuki Doi
  • Assessoria de Imprensa: Fernando Proença
  • Ilustração: L. P. Daniel
  • Comunicação Visual: Maria Baptista
  • Direção de produção: Cindy Napoli

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Depoimentos sobre Memórias

Texto colaborativos por Juliana Adur, Peter Abudi, Mariana Mello e Yiuki Doi. Revisão do texto: Edith de Camargo e a Cintia Napoli.
O texto surgiu de um exercício que a nossa diretora artística Cintia Napoli trouxe para o grupo. Depois de tantos laboratórios e pesquisas individuais e coletivas sobre memória, a proposta era construirmos um texto do grupo que referisse sobre a memória. Então fizemos um jogo de contar história com os quatros bailarinos criadores em roda, um começava a falar sobre a memória, depois de um tempo a outra pessoa continuava com a história, acrescentando novos pensamentos sobre tudo que já tinha sido dito pela pessoa anterior. Esse era o nosso jogo: criar um texto como se fosse uma única pessoa falando sobre a memória. Esse texto gravado ficou imenso e ficou interessante, parece até um documentário. Então a Edith e a Cintia selecionaram trechos da gravação que seriam utilizados para o nosso espetáculo.

Depoimentos sobre Memórias:

Fico mais questionando o mundo, do que me relacionando com ele intensamente. sinto muitas vezes que a memória tem a ver com emoção, a emoção do envolvimento com os acontecimentos. Por mais que eu me lembre da história que aconteceu, sempre me imaginei desgrudado do mundo. Nunca me senti tão à vontade em cada lugar, seja na família ou na escola. E apesar da história ter passado, parece que faltou esse laço emotivo de pertencimento àqueles espaços e parece que isso cria um lapso de memória em mim. Poucas coisas consigo lembrar. A memória tem a ver com essas questões, não com a história e sim como você colhe o mundo e se aproxima dele.

***

É uma coisa tão ampla que a gente não consegue agarrar. Tem muitas coisas que fico tentando lembrar, eu tenho dificuldade em prestar atenção em tudo que tá acontecendo o tempo inteiro. Algum detalhe sempre passa desapercebido.

Não que a gente consiga memorizar tudo que a gente tá vivendo à todo momento mas eu sinto que perco muito mais coisas do que a maioria das pessoas perde. E muito mais coisas passam desapercebidos por mim. Quando converso com pessoas e a gente tenta lembrar de determinadas situações que aconteceram em comum, tenho buracos ou lapsos de memória que são muito grandes e fico tentando preenchê-los e não consigo. E quando me contam como era o real, parece que vou criando uma colagem de memórias e ela vai ficando cada vez mais fictícia. Então a sensação que eu tenho, é que nenhuma memória é real.

***

Que que faz um momento importante para mim, fico me perguntando as vezes. Eu não sei se é porque sou uma pessoa introspectiva, como já disse, não gosto muito de falar… fico mais quieto.

......

Tenho uma imagem muito clara do meu pai lavando um Chevette vermelho no quintal da minha casa. Eu me vejo numa foto, sentado no capo dele de uniforme da escola. Meu pai tirou essa foto. Só que essa foto não existe, não sei, a foto eu criei, acho. Eu devo ter inventado ela. As vezes acho que é quase impossível. Porque o Chevette vermelho é inconfundível. Não tem como eu errar cor ou errar o carro. Pra mim ele existe e ponto.

E minha mãe tem essa mania de sempre me contradizer, que não, que não era bem assim, que essa memória está incompleta ou que estou inventando.

Então por isso as vezes prefiro me calar pra deixar esse momento em mim.

***

De onde vem essa ilusão que eu criei e que acho que é uma verdade... me dá uma sensação de verdade...

Falar de memória é um pouco complicado. Memórias parecem melhores ou mais bonitas do que o momento presente que sempre vem junto com tantas contradições.

Muitas coisas atravessando… imagens idealizadas... muitas informações.... As camadas que se misturam são confusas.

Por isso fico quieta muitas vezes. Prefiro não falar pra tentar ficar rememorando em mim mesmo.

Deixo isso tomando espaço dentro de mim.

Igual essa imagem do Chevette.

***

Eu sinto que a memória tem uma questão imaginativa, você vai completando o laço afetivo para resgatar sensações. Aquela pessoa que você gosta, você atualiza no presente. As memórias atualizadas criam um sentido para aquilo que eu busco.

Em cada fase da vida a gente tem uma memória diferente. Quando era criança o tempo era diferente, era muito estendido, não pensava tanto no futuro, no passado... o presente era incrível, era uma aventura. Você ir no parque era uma floresta para você desvendar.

Depois a gente aprende ter um relógio.

Hoje é diferente, como me relaciono com o presente tem a ver com como me relaciono com minha memória. E não tenho controle sobre esses vãos entre passado e futuro.

***

Nunca tive muitas memórias. Meus irmãos sempre falaram, “lembra de tal coisa…”? Eu não me lembro de muitas coisas da infância. As coisas que me marcaram muito foram muito fortes e deixei elas meio separadas/afastadas, essas memórias. De certa forma acho que ficaram como um trauma. Crio um certo distanciamento e prefiro não tocar em alguns assuntos.

***

Um trauma eu trago do dia que caí da árvore. A gente estava brincando, eu e os meus irmãos...... era um abacateiro...

Tenho medo de pombo e tenho medo de altura também. E é uma coisa incontrolável as vezes. Quando vejo, já tô passando muito mal.

Eu já perguntei pra minha mãe, se ela tinha me levado para um lugar muito alto quando era criança, pra onde a gente viajou, que lugares a gente conheceu, onde poderia ter passado por uma situação específica e ter desenvolvido isso. E ela falou, que não se lembra de absolutamente nada assim. No máximo foi no dia da formatura da minha irmã quando a gente subiu um morro e o ônibus passava muito, muito perto a beirada da estrada. E tava todo mundo desesperado, achava que o ônibus ia cair. Mas, até que ponto que realmente uma situação dessa vai provocar um pânico, ou uma sensação física forte quando a gente chega na fase adulta, eu não sei.

***

O Nando acorda no mesmo horário todos os dias, toma café da manhã do mesmo jeito, no mesmo lugar, ao lado da filha, e consegue dar conta da rotina, mas tem dias que não lembra do nome da filha.

Irracional.

Incontrolável.

Onde fica a memória em toda essa história, que aparece e desaparece?

A emoção apaga a memória, o trauma físico apaga ela. Quando caí da árvore, apagou minha memória, desmaiei acho, não consigo lembrar…

Lembro que estava deitado no colo da minha mãe quando acordei.

O tempo da memória é algo muito intrigante.

É uma questão espaço/tempo. Uma questão quântica.

Onde é que eu estou?

Estou no presente? Estou no passado? No futuro?

Isso me intriga muito, onde é que eu estou.

Existe algo, que está sendo registrado no corpo.

O contorno da realidade.

… em que memória posso me apegar como real?

Tecnologias afastam a experiência real das coisas?

A sensação é, que tudo vai escorregando…

Tenho quase certeza que inventei isso. Tenho a sensação que invento relações afetivas com minhas memórias.

Enfeitá-las, torná-las mais interessantes.

Não posso chegar perto de uma sacada no décimo-quinto andar. É incontrolável.

***

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Minha memória compartilhada: Paredes do banheiro e Não há sentido…

des, segue os dois textos que estou com dúvidas para a cena da carta azul. Yiuki

 

Paredes do banheiro

Quando eu era pequeno tinha um banheiro fora da casa, onde também era o nosso local de castigo.

Às vezes minha mãe encontrava-me sozinho nesse banheiro, fazendo nada, sentado no assento tampado. Vendo a situação estranha, ela perguntava: – Filho, o que está fazendo ai? Eu respondia: - Estou de castigo, pois fiz algo errado.

Não era triste, nem alegre aquele banheiro. Sabia que era um lugar que eu precisava ficar, somente isso.

Anos passaram, sai de casa e acabei me afastando dos meus pais, pois não consegui realizar algo que os filhos de japoneses costumam realizar.

Assim, decidi ficar no banheiro.

Busquei romper os laços, entrei no silêncio.

Queria que os meus pais se afastassem de mim.

Achei que tinha conseguido.

Mas ano passado recebi uma encomenda através do meu irmão, um pacote com comidas japonesas enviadas pela minha mãe, nela havia uma etiqueta escrita “Com carinho”.

Talvez ser filho não é uma questão de merecer ou não...

 

Não há sentido…

Meu pai sempre foi agricultor, por isso fui criado na roça até os meus 7 anos. Nesse período não tive amigos, as crianças que eu podia brincar eram as minhas duas irmãs. Lembro-me delas brincarem de cozinhar, e eu ficava com raiva porque não encontrava sentido naquela brincadeira. Aos 7 anos eu precisava estudar, então fui morar com a minha vó que morava próximo de uma escola. Achei que teria amigos, mas eu era muito delicado e também inteligente. Lembro de um paredão e uma roda de crianças me cercando, no centro estava eu e um menino. Eu precisava brigar com ele. Não entendia por que precisava brigar, não encontrava sentido nisso. Eu recuava, recuava e recuava. Ouvia outras crianças incentivando a briga. Lembro de uma voz: Ele não reage, parece até uma menina. O menino avançava, dando-me empurrões para tras e para o chão. Eu não briguei naquele dia. E como não reagi, as crianças foram embora. Não há sentido em muitas coisas da vida.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

旅愁 - "Dreaming of Home and Mother"

Minha canção escolhida. Original é inglesa, com uma letra diferente, pois a versão japonesa fala de um viajante solitário que não consegue visitar a terra natal, pois ainda não concretizou o seu sonho. Yiuki

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H. J. Wehman, Song Publisher. 50 Chatham St., New York.

Dreaming of Home and Mother.

Dreaming of home, dear old home,
Home of my childhood and mother—
Oft when I wake ‘tis sweet to find
I’ve been dreaming of home and mother.
Home, dear home, childhood’s happy home!
When I played with sister and with brother
‘Twas the sweetest joy when we did roam
Over hill and through dale with mother!

Sleep, balmy sleep, close mine eyes,
Keep me still thinking of mother—
Hark! ’Tis her voice I seem to hear—
Yes, I’m dreaming of home and mother.
Angels come soothing me to rest,
I can feel their presence as none other,
For they sweetly say I shall be blest

Childhood has come, come again,
Sleeping I see my dear mother—
See her loved form beside me kneel
While I’m dreaming of home and mother.
Mother dear, whisper to me now,
Tell me of my sister and my brother—

quinta-feira, 1 de maio de 2014

sobre o jogo e nós - escancarados?


Não sei se consigo ter noção do quanto o jogo nos escancara. O Tuca dizia que era bom que a gente não tivesse. Então, não me preocupo.
Mas às vezes acho que sinto, simplesmente sinto. Não sei bem explicar, mas sinto. Minha dificuldade de ir, meu esforço pra tentar. O lutar por uma coisa, lutar lutar e, não conseguindo, me culpar e sempre achar que não dei o suficiente, que sou a única responsável por meus próprios fracassos - e não é assim mesmo?. E começo a achar que nunca acerto, que as coisas nunca dão certo comigo, uma espécie talvez de autopiedade que me irrita. Mas que persiste. E aí tudo se mistura. Me sinto só. E me sinto culpada por me sentir só. Me sinto inerte. E me sinto culpada por me sentir inerte. Tenho medo de parecer a bailarina inexperiente que não consegue sequer decorar uma sequência, ainda que eu saiba que há muito mais coisas em jogo. E me sinto culpada. Sempre me sentindo culpada. A partir de quando, na minha vida, isso começou a ser assim? Eu comecei a me exigir assim, a me cobrar assim, a ser tão pouco generosa comigo?
Será que eu invento essas coisas pra mim mesma?

Como transformar essa culpa e essa 'ineficiência' ou 'insuficiência' em movimento? Em minha dança? Como não deixar essa inércia tomar conta de mim?  Como não ser sempre tão sozinha? Essa sensação de inadequação que sempre persiste... Tanta camada que se mistura...

Coloco  por fim um trecho do livro A Casa do Incesto, da Anaïs Nin. Que acho que diz bastante sobre mim e sobre esse momento.

"Ouço o passar de mistérios e o respirar de monstros. Só acordes perfeitos ou sussurros. O choque com a realidade obscurece-me a visão e submerge-me no sonho. Sinto a distância como uma ferida. A distância desenrola-se diante de mim como um tapete, posto antes dos degraus da catedral por casamento ou enterro. Desenrola-se como uma noiva vermelha entre os outros e eu, mas não consigo pisá-la sem um sentimento de desconforto como o que se tem nas cerimónias. A cerimónia de pisar a carpete desenrolada até ao interior da catedral onde têm lugar os ritos a que sou estranha. Não caso nem morro. E a distância da multidão entre os outros e eu, não pára de aumentar.
Distância. Nunca avancei pelo tapete até as cerimônias. Até a plenitude da vida da multidão, até a música autêntica e até ao cheiro dos homens. Nunca assisti a casamentos nem a enterros. Para mim tudo teve lugar na solidão do campanário com o som ensurdecedor dos sinos apelando com vozes de ferro, ou na cave onde roía juntamente com os ratos as velas e o incenso armazenados.
Não posso ter a certeza de nenhum acontecimento ou lugar a não ser da minha solidão. Diz-me pois o que as estrelas contam de mim. Será que saturno tem olhos de cebola que não param de chorar? Mercúrio tem penas de galinha nos calcanhares? Marte usa uma máscara de gás? Os gémeos, os gémeos desdobrados, será que se desdobram continuamente ao rolarem num espeto, Gémeos à la broche?
Há no meu ohar uma ruptura por onde a loucura sempre escoa."