Espaço de discussão e reflexão sobre a MEMÓRIA/TEMPO na construção do espetáculo de dança contemporânea "INPUT" da desCompanhia de dança. O projeto foi contemplado pelo Edital de Dança de Produção da Fundação Cultural de Curitiba e será estreado no dia 05 de Junho de 2014 no Teatro Kraide do Portão Cultural em Curitiba. Para maiores informações sobre a cia favor acessar o nosso blog www.descompanhia.blogspot.com

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Minha memória compartilhada: Paredes do banheiro e Não há sentido…

des, segue os dois textos que estou com dúvidas para a cena da carta azul. Yiuki

 

Paredes do banheiro

Quando eu era pequeno tinha um banheiro fora da casa, onde também era o nosso local de castigo.

Às vezes minha mãe encontrava-me sozinho nesse banheiro, fazendo nada, sentado no assento tampado. Vendo a situação estranha, ela perguntava: – Filho, o que está fazendo ai? Eu respondia: - Estou de castigo, pois fiz algo errado.

Não era triste, nem alegre aquele banheiro. Sabia que era um lugar que eu precisava ficar, somente isso.

Anos passaram, sai de casa e acabei me afastando dos meus pais, pois não consegui realizar algo que os filhos de japoneses costumam realizar.

Assim, decidi ficar no banheiro.

Busquei romper os laços, entrei no silêncio.

Queria que os meus pais se afastassem de mim.

Achei que tinha conseguido.

Mas ano passado recebi uma encomenda através do meu irmão, um pacote com comidas japonesas enviadas pela minha mãe, nela havia uma etiqueta escrita “Com carinho”.

Talvez ser filho não é uma questão de merecer ou não...

 

Não há sentido…

Meu pai sempre foi agricultor, por isso fui criado na roça até os meus 7 anos. Nesse período não tive amigos, as crianças que eu podia brincar eram as minhas duas irmãs. Lembro-me delas brincarem de cozinhar, e eu ficava com raiva porque não encontrava sentido naquela brincadeira. Aos 7 anos eu precisava estudar, então fui morar com a minha vó que morava próximo de uma escola. Achei que teria amigos, mas eu era muito delicado e também inteligente. Lembro de um paredão e uma roda de crianças me cercando, no centro estava eu e um menino. Eu precisava brigar com ele. Não entendia por que precisava brigar, não encontrava sentido nisso. Eu recuava, recuava e recuava. Ouvia outras crianças incentivando a briga. Lembro de uma voz: Ele não reage, parece até uma menina. O menino avançava, dando-me empurrões para tras e para o chão. Eu não briguei naquele dia. E como não reagi, as crianças foram embora. Não há sentido em muitas coisas da vida.

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