Espaço de discussão e reflexão sobre a MEMÓRIA/TEMPO na construção do espetáculo de dança contemporânea "INPUT" da desCompanhia de dança. O projeto foi contemplado pelo Edital de Dança de Produção da Fundação Cultural de Curitiba e será estreado no dia 05 de Junho de 2014 no Teatro Kraide do Portão Cultural em Curitiba. Para maiores informações sobre a cia favor acessar o nosso blog www.descompanhia.blogspot.com

sexta-feira, 28 de março de 2014

'O que o corpo não lembra'


pesquisando umas coisas encontrei o espetáculo "What the Body Does Not Remember" do grupo belga Ultima Vez, e achei que poderia ser legal compartilhá-lo com vocês. O trabalho, de 1987, foi a estreia do grupo dirigido pelo coreógrafo Wim Vandekeybus. Em 2013 fizeram uma remontagem, que inclusive veio para a Bienal de Dança do Sesc do ano passado. 
Não consegui encontrar o vídeo inteiro, apenas um pequeno fragmento. E pela descrição do trabalho no site, acho que mesmo o ponto de partida dele foi bem diferente do nosso - não exatamente a memória, mas mais as relações entre atração e repulsa, agressividade, medo, ansiedade. 
Mas achei interessante compartilhar mesmo assim. Há também um texto interessante do Wim Vandekeybus na página deste trabalho no site da companhia, especialmente a seguinte frase: "Mais quand tout est dit et fait, le corps ne se souvient peut-être de rien et tout est une illusion subtile du manque, ce qui aide à jalonner le jeu ou à l’épuiser" e que eu, no meu atual nível de francês, poderia traduzir como: "Mas quando tudo está dito e feito, talvez o corpo não se lembre de nada e tudo seja uma ilusão sutil de falta, que ajuda a balizar o jogo ou a esgotá-lo". 


Aí vai o link do vídeo que encontrei, como um pequeno teaser da versão 2013:




Aqui está o link da página deste trabalho no site da companhia (aonde se pode encontrar mais informações sobre o trabalho e o texto completo [um parágrafo] daonde tirei a frase dali de cima):  http://www.ultimavez.com/fr/productions/what-body-does-not-remember

E, para finalizar, um texto da Clarice Lima sobre esse trabalho, dentro do projeto 7x7 (um projeto de manifestações crítico-poéticas em torno de trabalhos artísticos escritos por artistas - como uma espécie de feedback poético espontâneo). Apesar dela colocar questões muito pessoais nesse texto de alguma forma, pelo menos para mim, ele redimensiona coisas. E isso me fez pensar em duas questões; uma que é: eu leio o texto dela mas não tive acesso ao trabalho que ela assistiu (que poderíamos chamar de 'o fato'), no entanto, ele acaba criando um sentido para mim independentemente deste fato específico (o espetáculo) e quase uma mem´ria-invenção do trabalho (como se eu criasse um espetáculo a partir das impressões e memórias dela em confronto com o quê isso vai reverberando nas minhas próprias memórias); a segunda: ele cria sentido para mim a partir de outros fatos bastante específicos (suas próprias memórias e o modo como me relaciono com isso que ela escreve), mas de algum jeito apesar dessas especifidades eles me afetam - o que me leva à pergunta: qual o limiar entre o particular e particular-universalizado? 


Drink no Dancing
Por Clarice Lima a partir de O que o corpo não lembra, de Wim Vandekeybus
O corpo lembra que amo dançar, que perco 1 kilo por espetáculo, que faço aula de balé antes de jogar tijolos pro ar, que no meu suor tem muito redbull e relaxante muscular, que me sinto cansada a maior parte do tempo, que tenho espetáculo agendados até 2015, que isso é tudo que eu sempre quis, que não vou operar meu joelho, que na audição tinham 500 bailarinos, que sou ok, que tenho sorte e coragem, que fico constrangida com aplausos no meio do espetáculo, que não consigo parar de roer as unhas, que sou Eslovaca, que tenho 22 anos, que já engordei, emagreci, engordei, emagreci e comecei a fumar, que não trabalho com sedução, que é emocionante dançar em grupo, que mal vejo o meu marido, que dançar dói, que como mais stroopwafel do que deveria, que vivo ilegalmente na Europa, que I forgive but I don’t forget, que não sou coreógrafa, que li Roger Garaudy, que tenho muita energia masculina, que gosto de romance, cinema, drink no dancing,cheese.
O que o corpo não lembra é que isso foi há 25 anos atrás.
lá tem também mais informações sobre o 7x7 se alguém se interessar)


Acho que é isso, por hora. Desculpem se  meu último parágrafo ficou meio confuso. Podemos conversar melhor sobre, se for o caso.

Beijos!

Um comentário:

  1. uauuu Mari adorei o texto, e sim realmente cria um sentido não é? bora lá falar mais sobre isso.

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